sábado, 13 de junho de 2020

Manual de Escrita - 10 conselhos para quem quer escrever seja o que for

Se formos acreditar no Pablo Neruda “escrever é fácil. Começam com uma letra maiúscula e terminam com um ponto final. No meio colocam ideias.”.
Quando se é um génio tudo se torna bem mais intuitivo, não é? Na realidade, para as pessoas ditas normais, o método não é assim tão linear e as palavras não surgem com taaaanta facilidade...

...mas como nós aqui no Close Up! acreditamos que todos encerram em si potencial para redigir argumentos dignos de um Óscar, resolvemos ajudar a desmistificar (e assingelar) um bocadinho todo o processo criativo:

O ponto de partida passa por ter o papel (ou o computador) à frente. Aí já derrotamos metade dos adversários - driblamos a lassidão e a falta de fé, esquivamo-nos da procrastinação e do medo de falhar e prosseguimos, cheios de motivação, rumo ao objectivo - os aplausos dar o nosso melhor em campo.
Analogias futebolísticas à margem, (até porque, nesse jogo em particular, somos penalizados por usar as mãos) o poeta chileno acertou em cheio num ponto: o que interessa é começar

E...ler, ler, ler!
Como Stephen King (um dos mais proeminentes autores do século XX) defende: "não há atalhos", nenhum mau leitor se torna bom escritor - é a leitura que nos fornece as ferramentas basilares para a escrita.
“If you want to be a writer, you must do two things above all others: read a lot and write a lot. There’s no way around these two things that I’m aware of, no shortcut.” 
Se formos ávidos a ler e o fizermos com entusiasmo isso traduz-se na escrita, ao "invocarmos" todos os livros que vivem dentro de nós para libertarmos uma estória que quer ser contada - isto se levarmos em consideração a filosofia de Michelangelo (o escultor renascentista, não a tartaruga ninja):
“Every block of stone has a statue inside it and it is the task of the sculptor to discover it.”
Tornem-se escultores de palavras! Apontar expressões de que se gosta e fazer um esboço de tudo o que se tem em mente é um modus operandi eficaz e ajuda a estruturar o processo de encadeamento de ideias - o discurso sai minimamente delineado, com maior coesão e uma transição princípio-meio-fim mais harmoniosa e menos "forçada".
Normalmente a prática leva à perfeição mas não é um dado adquirido, o talento tem também um papel preponderante na equação;

Haver uma certa predisposição inata, todavia, não invalida a necessidade de a exercitar - segundo «Outliers», o livro bestseller de Malcom Gladwell são necessários "10 anos e 10.000 horas" de treino para nos tornarmos efectivamente "versados" em algo - mas nada de desanimar! - a produtividade pode ser conquistada com uma rotina: havendo um propósito e uma hora específica para nos dedicarmos à escrita é provável que as palavras brotem com mais facilidade. Até porque qualquer coisa pode servir como inspiração - uma piada, um provérbio, um bolinho de bacalhau...
E quando esta surge repentinamente? A ouvir um sermão, a mudar um pneu, a meio duma série de burpees ou a entrar para a sala de colonoscopia? As ideias são o motor de tudo e, por isso, há que manter uma caneta nas imediações - se formos organizados temos tudo o que precisamos ao nosso alcance e não damos azo a distracções (ou esquecimentos);

Ter prazer no que se está a fazer (na generalidade) é crucial e ajuda a que todos estes procedimentos não se tornem maçadores, daí o próximo conselho passar por escrever sobre um assunto de que se gosta e com o qual se está familiarizado. Quando nos dedicamos a algo que nos interessa ficamos mais empenhados, a diversão é substancialmente maior e isso transparece para o leitor;

Seja qual for o formato a que nos dediquemos - blogues, livros, tirinhas de banda desenhada, argumentos de filmes ou manifestos comunistas - é imperativo que se estabeleça uma abordagem, nomeadamente no que à linguagem diz respeito.
Qual é o público-alvo?
E qual o tipo de discurso? Mais formal? Mais descontraído?
Simples? Com um léxico sofisticado? Estrangeirismos à mistura?
E o tom? Sério? Engraçado? Sarcástico? Informativo?
Seja o que for que se escolha, há que haver conformidade, coerência;

E eis que chegamos ao vocabulário: primeiro há que dominar bem os significados, depois destes consolidados, já se pode brincar com as palavras.
Figuras de estilo, adjectivos, neologismos... pode-se ir buscar de tudo ao nosso baú de conhecimentos - qualquer coisa serve para escrever.
Deve-se também recorrer ao dicionário - tanto para nos certificarmos que há alguma correspondência como para termos acesso a todo um mundo de sinónimos, possibilidades e combinações.
É importante ser criterioso e ter cuidado para não falhar a nível ortográfico nem utilizar termos que não se adequam ou se enquadram no contexto. É um erro crasso e desvirtua toda a escrita, o que me leva ao ponto seguinte...

Fact Check. Double-check.
(Examinar os factos. Confirmar novamente.)
Quando não se tem a certeza de algo, vai-se pesquisar. A facilidade e celeridade com que se consegue obter respostas pode evitar toda uma série de constrangimentos.
Certa vez li uma citação que normalmente é atribuída a Hemingway - "we are all broken, that's how the light gets in" - e como não estava segura da sua proveniência fui ao Google averiguar. Em dois meros cliques esclareci a minha dúvida: a frase é uma perfeita convergência da canção "Anthem" de Leonard Cohen [Ring the bells that still can ring/Forget your perfect offering/There is a crack, a crack in everything/That’s how the light gets in] com um excerto de "O Adeus às Armas" do escritor norte-americano [If people bring so much courage to this world the world has to kill them to break them, so of course it kills them. The world breaks everyone and afterward many are strong at the broken places. But those that will not break it kills. It kills the very good and the very gentle and the very brave impartially. If you are none of these you can be sure it will kill you too but there will be no special hurry].

A curiosidade é uma aliada. Vivemos na era da informação e equívocos deste calibre não só causam má impressão como são considerados indesculpáveis - as pessoas conseguem ser inclementes - ninguém é assim tão especial que não possa ter algo a aprender...
Se a informação está acessível, há que adoptar a leitura, ver coisas, procurar e se estar minimamente actualizado para, em nome da credibilidade, ter absoluta confiança naquilo que se publica - neste meio a reputação é tudo;

Escrutinar tudo uma e outra vez. Mark Twain costumava dizer que "escrever é fácil, só se tem de apagar as palavras erradas." Ele estava a ser irónico mas acabou por nos dar um conselho valioso - quando relemos temos uma melhor percepção do que está a mais e o botão delete torna-se um bom amigo;

Dar o litro: estamos à espera de sangue, suor e lágrimas! 
Aliás este mote deve acompanhar tudo na vida: não precisamos ser os melhores, mas dar o nosso melhor;

A reter: evitar escrever à pressa (esta, ao contrário da prática, é inimiga da perfeição). Evitar os clichés. Evitar as abreviações. Evitar os excessos. Evitar falar sobre assuntos que não dominamos. Evitar as repetições.
Não sei se já tinha mencionado isto mas convém não repetir vocábulos, expressões e/ou ideias.
A não ser que seja para frisar um ponto...

E por último:
Rever novamente todo o texto antes de o submeter.
Sempre.

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