sábado, 2 de março de 2013

REVIEW: "Cloud Atlas - Atlas das Nuvens" (Livro)


FICHA TÉCNICA:
Autor: David Mitchell
Número de páginas: 592
P.V.P. (aproximado) - 17,90€

SINOPSE OFICIAL:
Um viajante forçado a atravessar o oceano Pacífico em 1850; um jovem compositor deserdado, conquistando à força de tortuosas invenções um modo de vida precário num solar da Bélgica, entre a Primeira e a Segunda Grande Guerra; uma jornalista com princípios morais na Califórnia do governador Reagan; um editor menor fugindo aos seus credores mafiosos; o testamento de uma «criada de restaurante» geneticamente modificada, ditado na ala da morte; e Zachry, jovem ilhéu do Pacífico que assiste ao crepúsculo da Ciência e da Civilização. Seis vidas entrecruzadas - uma aventura extraordinária.

O VEREDICTO:
O cinema é o meu grande amor, gosto daqueles minutos de pura abstracção que a sétima arte proporciona e a maneira como fico completamente abismado com aquela mescla de som, cor e beleza. No entanto, na grande maioria das vezes consigo gostar ainda mais do título que lhe deu vida, a obra onde o cineasta se inspirou, das palavras que li pacientemente e dos cenários que formulei na minha imaginação.
Com "Cloud Atlas - Atlas das Nuvens" simplesmente não consigo fazer essa distinção, livro e filme são indissociáveis, ou não tivesse considerado a película a melhor do ano transacto...
Não há palavras que consigam descrever tamanha genialidade.
É encantador, arrebatador, engenhosamente envolvente... é passado, presente e futuro, fortuna e fado, tristeza e alegria, bondade e maldade...
É uma tresloucada odisseia que tem na energia que emanamos o seu fio condutor.
E se o livro é esplendorosamente poético, o filme está magistralmente orquestrado, com a trilha sonora de Tom Tykiwer, Reinhold Heil e Johnny Klimek a desempenhar um papel fundamental no nosso envolvimento enquanto espectadores, levando-nos a emocionar, torcer pelas personagens e até vociferar!
A riqueza de pormenores é tal que para compreender e apreciar na íntegra a obra e o filme vou ter que os rever mais algumas vezes.
No entanto, como não ficar enfeitiçado pela ambição, a caracterização e complexidade das personagens, a evolução da língua da "Gente do Vale" e as expressões futuristas de Sonmi 451, as referências a Nietzsche, Emerson, "Soylent Green - À Beira do Fim" (filme de 1970 protagonizado por Charlton Heston), ao livro "Arquipélago de Gulag", o significado de alguns dos nomes atribuídos por David Mitchell às suas personagens (Jocasta - "adúltera, intragável e melodramática" -, por exemplo)?
Temos drama, acção, romance, ficção científica e até comédia, com grande destaque neste último caso para o delicioso editor Timothy Cavendish (interpretado no filme de forma brilhante pelo britânico Jim Broadbent), uma combinação harmoniosa de desespero, chico-espertismo e boa-disposição: «Oh, seu bruto, ignaro, filho da mãe de um raio! Isto é um grave atentado pessoal! É um procedimento passível de prisão!»
Goste-se (como eu) ou não, a complexa teia existencial que é "Cloud Atlas - Atlas das Nuvens" promete não deixar ninguém indiferente, ecoando no pensamento dos leitores muito depois de terminada a sua leitura.

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