FICHA TÉCNICA:
Autora: Liz Tucillo
Editora: Editorial Presença
Número de Páginas: 384
P.V.P. - 18,50€
SINOPSE OFICIAL:
Julie Jenson tem 38 anos, vive em Nova Iorque, trabalha como agente publicitária numa editora e está solteira há seis anos.
Tal como muitas mulheres em situações semelhantes, Julie não deixa de se questionar: porque é que qualquer homem, mesmo careca, entediante, gordo e desempregado, consegue arranjar uma namorada, e ela e as amigas, que são atraentes, divertidas, bem-sucedidas e inteligentes, continuam solteiras?
Com o objectivo de responder a este grande mistério da vida, Julie decide abandonar o emprego e percorrer o mundo.
De Paris ao Rio, de Sydney a Bali, de Pequim a Roma, Julie aprende a redefinir a sua visão do amor, da felicidade e da realização pessoal.
O VEREDICTO:
A premissa é bastante simples: como lidar com o facto de não se conseguir (ou não querer) assentar?
«É a pergunta mais irritante de todas, mas as pessoas não conseguem evitar fazê-la. Fazem-na nas reuniões familiares, principalmente nos casamentos. Os homens fazem-na logo no primeiro encontro. Os psicólogos fazem-na repetidamente. E nós fazemo-la a nós mesmas demasiadas vezes. É uma pergunta que não tem uma resposta aceitável e que nunca faz com que ninguém se sinta melhor consigo mesma. É a pergunta que, quando as pessoas deixam de a fazer, ainda nos faz sentir pior.
E, no entanto, não posso evitar fazê-la. Por que razão é solteira? Parece ser tão boa pessoa. E tão atraente. Não consigo entender.» (Pág. 11)
Desde quando o nosso objectivo de vida passa por encontrar alguém para partilhar a vida? Onde está a lei que nos diz que para sermos felizes temos que estar acompanhados, hã?
Nem todas as mulheres sonham com casamento, casa nos subúrbios (clichés dos filmes americanos) e bebés rosadinhos e sorridentes.
Por vezes, a felicidade passa por outras motivações, como um emprego de sonho, correrias pelo mundo, sossego num sofá sem migalhas ou, pasme-se, uma vida de solteira.
É no mínimo ridículo que em pleno século XXI haja ainda quem tenha que justificar a velhos do Restelo uma vida solitária ou - preparem as tochas - uma vida sem filhos.
Jennifer Aniston, a eterna Rachel de «Friends», teve novamente que vir a público desmentir uma suposta gravidez, reiterando que não se encontra grávida nem cogita essa hipótese num futuro próximo. Reneé Zellweger - Bridget Jones para os amigos - também se sentiu na obrigação de defender à imprensa a sua opção de não procriar. Afirmou que nunca foi algo que sonhou e que a sua realização pessoal nunca passou por trazer descendência ao mundo.
Não devíamos ser um pouquinho mais evoluídos que isto?
Se formos a ver, a sociedade determina o sucesso de uma mulher mediante a sua agenda amorosa ao invés de a julgar pelos seus feitos e conquistas. É uma lupa misógina, decadente e injusta que a indústria cinematográfica ajuda a propagar.
«Em todos os filmes americanos há um casamento. Ou um homem qualquer a correr por um pontão ou a entrar num helicóptero para pedir a mulher que ama em casamento. Na verdade é bastante infantil.» (Pág.59)
Vejamos:
Num filme quando duas mulheres falam, qual o tema que impera?
As personagens femininas são, em grosso modo, acessórios ou representações vazias e frívolas. Suportes corroborantes de um protagonista superlativo.
Hollywood preconizou uma suposta mudança deste paradigma mas, sejamos honestos, quantas películas passariam o teste de Bechdel?
Assim, de repente, lembro-me de «Alien, o Oitavo Passageiro», com uma fabulosa Sigourney Weaver em evidência, de «Million Dollar Baby», com uma Hillary Swank em grande forma a nocautear preconceitos, «Jackie Brown», estrelada por uma assombrosa Pam Grier e «Kill Bill» com a mortífera Uma Thurman. Todos eles filmes com protagonistas fortes e auto-suficientes, bons argumentos e - choque! - interacções entre mulheres que sabem discutir outro assunto que não homens.
Mas voltando a página para o livro, como desafiar convenções e ser, então, uma pessoa livre e descomprometida?
«Como Ser Solteira» dá-nos a conhecer a história de Julie e de quatro das suas amigas mais próximas:
Geórgia, que foi trocada por uma professora de samba abandonada recentemente pelo marido e ainda está "um nadinha perturbada" com o assunto;
Ruby, a "adorável morena" à procura do amor. Sensível e emotiva, "gosta de falar dos seus sentimentos" e finalmente percebe que tem que se colocar em primeiro lugar e não pode investir tuuuudo numa relação, sob pena das suas expectativas saírem, vá, ligeiramente defraudadas;
Alice-consegue-fazer-qualquer-coisa, a "ruiva heroína de Staten Island", uma advogada que defende "os direitos dos pobres e desfavorecidos, fazendo-os sentirem-se respeitados e ouvidos", "uma mulher destemida", "com raízes italianas";
E Serena, a vegetariana "um bocadinho obsessiva-compulsiva", "que vive numa bolha isenta de lactose e trigo" e que se certifica que cada vegetal que compra é "de origem biológica e lavado até à exaustão".
«Meu Deus, somos criaturas patéticas. Somos advogadas, agentes publicitárias, mulheres de negócios e mães de cabelos esticados e lábios pintados, todas à espera que os raios de atenção masculina brilhem sobre nós e nos façam sentir vivas mais uma vez.»
Hmmm... mulheres de personalidades distintas à procura do amor numa grande metrópole?
Reminiscências, reminiscências...
«Como Ser Solteira» vai buscar inspiração a «Sexo e a Cidade» ou não fosse a autora, Liz Tuccilo, uma argumentista dessa série televisiva. Vai também "roubar" um bocadinho a «Comer, Orar, Amar», principalmente na noção e jornada de auto-descoberta e incursões por países como Itália, Indonésia e Índia. No entanto, e ao contrário da obra de Elizabeth Gilbert, esta é completamente ficcional.
É um livro com um estilo de escrita desembaraçado, descontraído e bem-humorado. Sagaz, divertido, com boas descrições dos destinos de Julie (França, Austrália, Bali, Rio de Janeiro, Roma) e, para finalizar, com onze pedaços de sabedoria, em jeito de manual para se sobreviver a uma vida celibatária:
1. Certifique-se de que tem amigos;
2. Não seja maluca, não importa como se sente por dentro, porque só faz com que todas façamos má figura;
3. Determina aquilo em que acreditas e age em conformidade;
4. Deixe-se levar (mesmo que seja impossível saber quando está certa e quando tudo vai ser um completo desastre);
5. Perceba toda a questão do sexo - quando o quer, como o conseguir, com quem o fazer (mas certifique-se de que o faz de vez em quando; embora seja só a minha opinião);
6. Aceite as estatísticas porque na verdade não podemos fazer nada para as contornar (ou podemos?)
7. Admita que por vezes se sente desesperada (eu não conto a ninguém);
8. Na verdade, são tão poucas as pessoas que têm tudo que não vale a pena incomodar-se com a questão da inveja;
9. Não quero pressioná-la, mas é melhor começar a pensar na maternidade (na verdade, não tem todo o tempo do mundo);
10. Lembre-se que por vezes há coisas mais importantes do que você e a sua triste vida amorosa e faça com que as suas amigas se envolvam mais a ajudá-la com a sua triste vida amorosa.
11. Acredite em milagres.