sábado, 4 de janeiro de 2014

Entrevista a Ana Carolina, a realizadora de "A Primeira Missa"


Proveniente do cinema documental, Ana Carolina é reconhecida como uma das cineastas mais respeitadas e originais do Brasil. apesar de não realizar qualquer longa-metragem desde 2003, ano em que dirigiu "Gregório de Mattos", drama biográfico centrado na obra do polémico poeta baiano nascido em 1636.
A PRIMEIRA MISSA OU TRISTES TROPEÇOS, ENGANOS E URUCUM - uma história que propõe "simultaneamente "ver e reflectir" sobre os rumos da história do Brasil e da formação da sua identidade audiovisual" - coloca assim um ponto final no hiato de uma década da realizadora de 70 anos, que esteve à conversa connosco para nos revelar alguns dos segredos por detrás do seu mais recente projecto.

CLOSE UP! - Como surgiu a ideia para fazer este filme?
ANA CAROLINA - Tenho, desde sempre, um encanto absoluto pela descrição cristalina de Pêro Vaz de Caminha ao chegar no Monte Pascoal em 1500. Sempre quis, de alguma maneira, reproduzir o sentimento daquela chegada. Em 2010 iniciei o projecto que era para ser um filme histórico, com grande produção, com muitas caravelas, filmado na Costa da Bahia em pleno mês de Abril com muitos personagens e o equivalente a duas tribos de Pataxós que significava, no mínimo, 150 índios. Sem contar a logística que essa produção exigiria.


CLOSE UP! - O que a levou então a insistir na realização deste projecto mesmo após todos os avanços e recuos que este teve?
ANA CAROLINA - Eu sou uma pessoa insistente e persistente. Confio nos meus desejos. Portanto, inspiro confiança.


CLOSE UP! - Tendo em conta a redução drástica no orçamento que este filme sofreu, foi certamente necessária muita imaginação para suplantar alguns problemas que foram surgindo ao longo do caminho. Tem alguma história de bastidores curiosa relacionada com esta condicionante que nos possa revelar?
ANA CAROLINA A história mais curiosa é que em toda a minha vida profissional jamais havia filmado com 20 actores e 18 índios de figuração no meio da Mata Atlântica, em somente três semanas.


CLOSE UP! - Ter actores portugueses no elenco foi uma “exigência” sua?
ANA CAROLINA - Sim, sempre foi condição primeira e absoluta que os personagens portugueses fossem interpretados por actores legitimamente portugueses porque se o melhor actor brasileiro se pusesse a fazer um personagem português tudo se transformaria em total impedimento dramático.


CLOSE UP! - Por volta dos anos '70 a presença de uma mulher atrás das câmaras, no Brasil, era ainda uma excepção. No entanto, em 1974 a Ana Carolina realizou a sua primeira película, o conceituado documentário "Getúlio Vargas". Será que este início de carreira em que teve que lutar e se afirmar, influenciou a sua formação como realizadora e a visão que hoje tem do cinema? 
ANA CAROLINA - Quando eu fiz o "Getúlio Vargas" já vinha lutando na carreira de cineasta há 9 anos, fazendo documentários, médias e curtas-metragens. Penso que a luta dá-te ferocidade, rapidez, astúcia, frieza e prática. Essa astúcia, frieza e prática ensinam-te a filmar.


CLOSE UP! - E pensando no futuro, que projectos tem em mente?
ANA CAROLINA - O meu próximo filme será um tratado sobre o “Mal Entendido”.


CLOSE UP! - Agora que 2013 chegou ao fim, pode revelar-nos quais os filmes que mais gostou de ver no ano transacto?
ANA CAROLINA - Em 2013 não tive um momento de trégua. Só consegui assistir ao filme "Blue Jasmine", do Woody Allen, que tem um elenco excepcionalmente bom mas uma linguagem um pouco televisiva demais.

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